Hoje é um dia que se eu tivesse asas
eu simplesmente iria voar
não importaria se noite ou dia
quem seria a chuva?
nada choveria em mim
eu seria, do alto, testemunha e cúmplice de tudo que visse.
Yves Klein, Leap into The Void, Fotografia 35x27 cm (Foto manipulada)
3 comentários:
"Na minha cidade tem poetas, poetas
Que chegam sem tambores nem trombetas, trombetas
e sempre aparecem quando menos aguardados,
guardados, guardados
entre livros e sapatos,
em baús empoeirados.
Saem de recônditos lugares,
nos ares, nos ares
Onde vivem com seus pares,
seus pares, seus pares
e convivem com fantasmas
Multicores de cores, de cores
Que te pintam as olheiras
E te pedem que não chores.
Suas ilusões sao repartidas,
partidas, partidas
entre mortos e feridas,
feridas, feridas
mas resistem com palavras
Confundidas,
fundidas, fundidas
Ao seu triste passo lento
Pelas ruas e avenidas.
Não desejam glórias nem medalhas
Medalhas, medalhas,
se contentam com migalhas,
migalhas, migalhas
De canções e brincadeiras
com seus versos dispersos, dispersos
Obcecados pela busca
de tesouros submersos.
Fazem quatrocentos mil projetos
projetos, projetos,
que jamais são alcançados, cansados, cansados
Nada disso importa enquanto eles escrevem,
escrevem, escrevem o que sabem que não sabem
E o que dizem que não devem.
Andam pelas ruas os poetas,
poetas, poetas
Como se fossem cometas,
cometas, cometas
Num estranho céu de estrelas idiotas
E outras e outras
Cujo brilho sem barulho
Veste suas caudas tortas.
Na minha cidade tem canetas,
canetas, canetas
Esvaindo-se em milhares,
milhares, milhares
De palavras retorcendo-se confusas,
confusas, confusas,
em delgados guardanapos
feito moscas inconclusas.
Andam pelas ruas escrevendo
e vendo e vendo
que eles vêem nos vão dizendo, dizendo
E sendo eles poetas de verdade
Enquanto espiam e piram e piram
Não se cansam de falar
Do que eles juram que não viram.
Olham para o céu esses poetas,
peotas, poetas,
Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas
Lançadas ao espaço e o mundo inteiro
inteiro, inteiro,
fossem vendo pra depois
voltar pro Rio de Janeiro."
"quando chove,
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
de noite,
anoiteço,
tem deus,
eu rezo,
não tem,
esqueço,
chove de novo,
de novo, chovo,
assobio no vento,
daqui me vejo,
lá vou eu,
gesto no movimento"
Paulo Leminski
Ai como eu te amo sem fim...
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