Se eu tivesse a voz
para cantar mais do que dizer
o que por dentro grito
cantaria pelas ruas à noite
com um chapéu no chão
com a veia muitas vezes estufada
a cara corada, beirando à rouquidão
se eu tivesse o poder da voz
eu cantaria pelos telhados
para abafar todo sinal que transite
e acordar qualquer sonho deitado
espiralando o senso de direito
se eu tivesse ao meu alcance a voz
estaria sempre on the road
usaria tons mais intensos
usaria sons mais imensos
usaria bons e poucos silêncios.
se eu tivesse nascido com a voz
faria um esforço inédito
seria o pretérito mais-que-perfeito
indicativo subjuntivo tão sujeito
a qualquer frequência tocar
se eu não tivesse só o desejo da voz
você seria vós.
Atados seriamos, nós.
Arley Alves Ribeiro
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