Cá estou eu na capital argentina. Menos de um dia e já tenho histórias para escrever e contar. Começando pelo embarque em Confins já estava apreensivo por causa do violão que resolvi trazer. A bagagem de mão, de acordo com as regras, só pode ter 5kg e dimensões reduzidas. No meu caso, estava levando um violão num bag comum e também um mochila com um notebook, que por si só já tinha quase os tais 5 kg. Por isso tudo eu estava preocupado com o embarque, pois eles poderiam encrencar e não me deixarem levar uma das bagagens. "Bueno, nada pasó!". Nem o pessoal da TAM, nem da LAN (argentina) não falou nada e vim com meus pertences em paz. Chegando ao aeroporto de Ezeiza procurei o Banco Nacional da Argentina para trocar meus reais por dólares, pois sei que esse banco é um dos lugares mais seguros e com uma boa taxa de câmbio. Não troquei o dinheiro todo, apenas o suficiente para resolver as coisas mais importantes. A partir daí começaram as mazelas! Quando fui ao guichê do "bus" que me levaria ao albergue, descobri que não havia trago o endereço do albergue que anotei. Maldito papelzinho. Então tive que arrumar um lugar no aeroporto que pegava wi-fi pra olhar na internet o tal endereço. Fui até um café e aproveitei pra pedir um cappuccino. Nunca tomei uma água suja de café tão ruim. Era até bonito, mas horrível. Água quente, com espuma de leite por cima e com uma pitada de pó... credo. Enfim, conectei, olhei o endereço, paguei e voltei ao guichê. Comprei o bilhete por 50 pesos e saí do aeroporto. Fui até o ônibus, entrei e esperei cerca de 20 minutos dentro. O ônibus não encheu, mas entraram duas meninas falando inglês com um sotaque britânico inconfundível. Sentaram na minha frente e ficaram conversando. Percebi que estavam de férias e estavam viajando pela América do Sul. Quando uma delas falou "Brasil" eu levantei e pedi licença pra falar. Elas realmente eram britânicas: Georgina e Sara. Georgina morou três meses na Bolívia e disse que falava um pouco de espanhol também. Sara olhou-me e disse: "I don't know nothing!". Elas nunca ouviram falar de Minas Gerais e eu disse que era acima do Rio... rs. Elas iam ficam num albergue também, parecia que era próximo do meu. Despedi e deixei-as à vontade. Elas continuaram conversando.
Quando o ônibus chegou no ponto final, um casal perguntou (em espanhol) como chegariam ao destino. O motorista disse que haveria carros pra levar cada um ao seu destino. Eu desci e as duas meninas ficaram. A princípio não entenderam o que estava acontecendo. Quando desceram, sentaram um pouco esperando chamarem. Os rapazes chamaram cada um pelo destino e eu entrei num Dobló com elas. Realmente os albergues eram próximos. Percebi que elas também levavam um violão num bag todo estiloso, feito de linha... bem Hippie. Desci primeiro, despedi delas e entrei no albergue. Eram cerca de 17:30. Na recepção a moça disse que eu teria que pagar a estadia em dinheiro e isso seria um problema porque minha idéia era guardar o dinheiro para comprar coisas na rua Queria usar o cartão. Paguei uma semana e tive que convencer a menina que ela tinha que descontar os 20 dólares que eu havia depositado para a reserva. Ela ligou pra outra garota da recepção e tudo foi resolvido. Meu quarto era o 5. Nenhuma surpresa quando encontrei mais 4 brasileiros no mesmo quarto. 3 do Rio e 1 do Rio Grande do Sul. A verdadeira surpresa foi quando chegou uma outra menina estilo oriental. Eu perguntei "hablas español" e ela disse que "um poquito, sí." E eu continuei: "English?". Ela disse: "Yes". O nome era Rosaly. Tinha um pequeno acento britânico também. Ficamos conversando um pouco e ela me perguntou o que eu fazia, eu disse que trabalhava com informática e ela perguntou o que exatamente. Eu disse que programava. Aí vem a surpresa. Ela também programava em .NET (C#). Mesma tecnologia que eu trabalho hoje. Daí ela disse que havia uma amiga com ela. A amiga apareceu, com um sotaque britânico muito mais forte. Eu perguntei se ela era programadora também e ela disse que não e que não sabia o que era mais. Disse que estava de férias e que quando voltasse ia ver o que iria fazer. =P.
Bom, agora vamos à outra mazela, pra não dizer burrice, minha. Eu mexi na minha mala (que na verdade é da Sara) peguei o que precisava, tranquei o cadeado e tomei banho. Quando voltei comecei a procurar a chave (minha mãe vê essa cena todo dia). Não achei nem fodendo. Foi aí que desvendei o mistério. Eu havia trancado a chave dentro da mala, olha que legal!!! As duas orientais em perguntaram o que era e eu disse: "I think I locked the key inside." - "Are you sure?!" - "No, but it's my best explanation by now."
Paciência! Eu tava com uma puta dor de cabeça. Fui dormir, pois não havia nada que eu tinha que pegar com urgência na mala. Problema é que não consegui dormir nada. O que é normal. Os tais brasileiros pareciam ter uma programação certa, elas iam e voltavam várias vezes ao albergue. Saíram pra comer por volta das 22h, voltaram, saíram pra pré-night (seja lá o que isso for), depois saíram de novo de vez. Já era 1:30 da manhã. Eu fiquei por ali, sem dormir direito. De manhã tomei café, leite, chá, comi pão e comecei a me preocupar com a questão da mala. Saí pelas ruas pra procurar cadeados novos. Precisaria de dois. Um pra mala e outra pro armário, assim que um vagasse. Achei um mini-carrefour e comprei alguns suprimentos, mas nada de cadeado. Havia outros problema. Eu teria que serrar o outro cadeado. Eu não sei falar cadeado em español, eu nao sei falar serra ou segueta também. Mesmo em inglês eu nao lembrava. Dei um jeito de conectar à internet com meu resto de bateria do notebook e descobri isso. Agora eu poderia sair pela rua e pedir por um candado e uma sierra. Em inglês seria padlock e saw. Aproveitei e mandei uma mensagem pra Lú dizendo que estava bem. Saí à rua, andei, andei, achei os cadeados, mas nem sinal de serra. Domingo só abre loja que vende tralha pra turista!!! Aprenda! A sorte foi que no albergue a chica me emprestou uma seguetinha, cega, mas que, com custo, conseguiu cortar o candado. Beleza! Assim, abri a mala e voltei a ter acesso ao carregador do notebook e do celular. Também minhas partituras, tênis, roupas, e claro, a maldita chave! Outra coisa boa foi que ambos os carregadores são bivolts e posso usar aqui, que é 220v. Mais cedo eu havia comprado um adaptador de plug, pois o padrão argentino também é diferente.
Bom, por enquanto é só. Breve tem mais.
Detalhe engraçado. A recepcionista fala só espanhol, mas entende inglês e português, então as pessoas chegam e falam frases gigantes em inglês e português e ela responde tudo direitinho em espanhol. O gringo entende, ela entende e eu entendo... É muito divertido!!!
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Arley Alves Ribeiro